Surto de Cólera em Angola: Reforçar a Capacidade de Resposta e Promover a Resiliência das Comunidades
15 janeiro 2025
Angola enfrenta um surto de cólera. Governo, OMS e comunidade unem forças para salvar vidas, garantir água potável e proteger os mais vulneráveis.
No Bairro Paraíso, em Cacuaco, Luanda, epicentro de um surto de cólera que já afetou três províncias de Angola, com 383 casos registados e 22 vidas perdidas, o medo paira sobre a comunidade. Em meio à incerteza, Maria da Conceição é uma voz de esperança. Residente há mais de 20 anos no Bairro Paraíso, Maria é mais do que uma moradora — há seis anos, atua como Agente de Desenvolvimento Comunitário e Sanitário (ADECO), e, neste período desafiador, a sua missão tornou-se mais importante do que nunca. “Quando ouvi falar dos primeiros casos de cólera aqui no bairro, percebi que tinha de agir. A minha comunidade precisava de mim”, diz Maria enquanto caminha pelas ruas de terra batida, levando informação e apoio às famílias.
Desde que o surto foi identificado, no início de janeiro de 2025, o Ministério da Saúde, com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), intensificou os esforços para conter a propagação da doença. As medidas incluem a desinfecção das áreas contaminadas, a identificação e rastreamento de contactos, o reforço das capacidades de diagnóstico no Laboratório Nacional, a realização de avaliações de prontidão em províncias e distritos, o desenvolvimento de uma estratégia de comunicação sobre cólera com engajamento comunitário, assim como a investigação epidemiológica e laboratorial aprofundada para a confirmação dos casos suspeitos. Adicionalmente, tem sido realizada a mobilização de ativistas e mobilizadores no terreno para uma campanha de informação casa a casa e distribuição de material de Informação, Educação e Comunicação (IEC) e de solução-mãe de hipoclorito de cálcio (lixívia), permitindo que as famílias possam, elas mesmas, proceder à desinfecção caseira da água de consumo, assim como das latrinas e casas de banho. Maria é uma das heroínas na linha de frente, garantindo o sucesso destas ações. Maria destaca que o combate à cólera deve ser um trabalho conjunto de toda a comunidade: “Se cuidarmos da água que bebemos e mantivermos as casas limpas, podemos salvar vidas”, explica Maria, enquanto distribui folhetos e garrafas de solução de hipoclorito de cálcio, ensinando as famílias a desinfetar a água.
Para Maria, ser ADECO vai além de uma mera responsabilidade. É também uma realização pessoal. Ela cresceu no Bairro Paraíso e conhece todos os vizinhos do seu quarteirão. “Quando vejo uma criança a beber água que sei que está tratada, sinto que estou a fazer a diferença. Isso dá-me força para continuar”, confessa, emocionada.
A resposta ao surto tem sido abrangente. O Ministério da Saúde está a preparar um Centro de Tratamento da Cólera com capacidade para 100 camas, no Bairro Paraíso, para que ninguém precise de percorrer longas distâncias para receber tratamento. Também estão a ser instalados tanques de água potável, garantindo um acesso mais seguro a este recurso essencial.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem desempenhado um papel essencial no combate ao surto de cólera em Angola, prestando apoio técnico e operacional em várias áreas. Desde a liderança e coordenação, facilitando a elaboração de um Plano Nacional de Resposta à Cólera e destacando equipas para as províncias afetadas, até ao apoio logístico, com a gestão de inventários e o reforço de 17 equipas de resposta rápida. A nível comunitário, a OMS tem apoiado a criação de uma estratégia de comunicação sobre a cólera, promovendo a educação e sensibilização junto das populações afetadas. Além disso, tem envidado esforços para a obtenção de 950.000 vacinas contra a cólera, uma medida fundamental para conter a propagação da doença. Outras áreas prioritárias têm sido o reforço da capacidade laboratorial, com o envio de especialistas para o Laboratório Nacional, e o apoio na vigilância epidemiológica, através da atualização de relatórios de situação e avaliações de prontidão nas várias províncias. Num esforço de mobilização comunitária, a OMS e o Ministério da Saúde têm contado com o apoio dos ADECOS, grupos de escuteiros, igrejas e associações para, em conjunto, proteger as comunidades e salvar vidas.
Angola já enfrentou a cólera antes e superou momentos difíceis. Entre 1995 e 2000, o país manteve-se livre de surtos, mas em 2011 foi atingido por um grande surto, que causou 2.284 casos e 181 mortes. Mais recentemente, entre 2016 e 2017, o surto afetou as províncias de Cabinda, Luanda e Zaire, resultando em 252 casos e 11 mortes. Cada batalha foi uma lição, fortalecendo a capacidade de resposta e a resiliência das comunidades.
“Eu acredito que vamos conseguir. Já passámos por muita coisa e, juntos, vamos vencer mais esta”, afirma Maria, com a voz carregada de confiança. Ela inspira não apenas os profissionais que trabalham ao seu lado, mas toda a comunidade que vê na sua determinação uma razão para acreditar que Angola pode vencer a cólera e garantir a saúde para todos.