Angolanas/os na ONU: Ana Yekenha Ernesto

Contar histórias sempre foi importante para mim.
Descobri isto logo no meu primeiro emprego, como jornalista, e fui aperfeiçoando até que encontrei o meu caminho até às Nações Unidas. Em 2019, candidatei-me a uma posição no Programa de Voluntariado das Nações Unidas (UNV) em Luanda, para ser Voluntária a serviço do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) em Angola. Lá trabalhei como Assistente de Comunicação durante três anos, aprendendo a conciliar a minha paixão com o propósito de servir a uma causa maior. Mais tarde, fui para o Gabinete da Representante Residente das Nações Unidas em Angola, como consultora de Comunicação e Advocacia. Agora, ocupo uma posição de Voluntária internacional na Guiné-Bissau, a trabalhar como Especialista em Mobilização de Recursos e Parcerias para o UNICEF.
Nas Nações Unidas, tive a oportunidade de contar histórias das comunidades impactadas pelos diferentes projetos e esforços para promover o desenvolvimento sustentável em Angola e na Guiné-Bissau. Viajo frequentemente para todo o país e converso com pessoas reais sobre os seus sonhos, problemas, esperanças e necessidades. Orgulho-me por saber que estou a fazer algo que terá um impacto positivo na vida de outras pessoas. O facto de agora estar a serviço do UNICEF, em prol das crianças, torna tudo ainda mais gratificante. Embora possa parecer pequeno, considerando a escala dos desafios, acredito que o meu trabalho faz a diferença.

Uma grande parte do meu trabalho é angariar fundos para o UNICEF, para que a agência possa criar projectos para proteger as crianças de qualquer tipo de violência e promover o acesso à educação e saúde de qualidade. Há muito a ser feito e não há fundos suficientes para cobrir todas as iniciativas necessárias.
O meu trabalho também é mostrar como as crianças e comunidades estão a ser impactadas pelos esforços do UNICEF, para que os doadores saibam que o seu dinheiro está a ser usado para um propósito. Que o seu investimento está a mudar e a salvar vidas de crianças na Guiné-Bissau.
Nas missões de campo na Guiné-Bissau, sempre me divirto com a surpresa das pessoas ao descobrirem que sou angolana, quase uma vizinha. É como se esperassem que todos os membros das Nações Unidas fossem oriundos da Europa e países do Norte. Encaro isso como uma oportunidade para demonstrar que que existem muitos caminhos que se pode escolher na vida, independentemente da origem. Além disso, acredito que ajuda a desafiar perceções sobre o que as mulheres africanas podem ou não fazer.
O meu conselho para os angolanos que desejam explorar uma carreira nas Nações Unidas seria investir na educação e em si mesmos e não ter medo de arriscar. É fácil acreditar que oportunidades assim só aparecem aos outros e compararmos o nosso percurso e competências com eles, a nosso desfavor. Então, é importante combater esta tendência e acreditarmos em nós.
A ONU é uma plataforma global, onde nações diferentes se reúnem para resolver questões cruciais que transcendem fronteiras e culturas. É importante que Angola seja representada nestes diálogos ao mais alto nível pelos seus quadros. Só assim conseguiremos levar o nome, a história e a cultura do nosso país mais longe. Os angolanos têm muito a oferecer às Nações Unidas.