Equipa de futebolistas refugiados mostra vontade de integração
O desporto está a ajudar os jovens do Assentamento do Lôvua a enfrentar momentos difíceis enquanto estão longe de casa
Oyombo Adore remata à baliza e faz golo. A multidão delira e dezenas de pessoas entram no campo em festa. O golo, que acaba por ser o único do jogo, torna Oyombo o herói da tarde e dá a vitória à Academia Club de Lôvua. Nesta equipa são todos refugiados e sonham jogar em equipas profissionais. Mas, para já, o desporto está a ajudar a serem mais resilientes, encontrarem objectivos e a integrarem-se melhor na sociedade angolana. O próximo passo é participar no campeonato provincial de futebol.
Oyombo Adore tem 24 anos e nasceu na República Popular do Congo (RDC). Em 2017, devido a actos de violência na província do Kasai atravessou a fronteira para Angola e tornou-se um refugiado. Abandonou o país mas houve uma coisa que nunca deixou: o futebol. Já jogava na RDC e aqui continuou. “Praticar desporto faz a diferença”, diz.
Uma história que não é muito diferente do treinador de Djibril Mukandila. Também ele era treinador na RDC até ter de fugir em 2017. “Fui eu, quando aqui cheguei, que comecei a juntar os jovens”, explica dizendo que começou no Cacanda, onde inicialmente se começaram a concentrar os refugiados, para depois continuar no Assentamento do Lôvua, onde ainda hoje vive.
A ideia acabou por evoluir para uma escola de futebol no assentamento, com todas as categorias: juniores, seniores, mulheres e homens. “Na escola de futebol, nós não escolhemos os alunos, temos as portas abertas para todas as pessoas”.
Mukandila já formou dezenas de refugiados e não se cansa de elogiar os benefícios do desporto para pessoas que vivem em circunstâncias excepcionais: benefícios para a saúde, o stress e para unir os jovens com a comunidade.
Apesar da atitude descontraída, a verdade é que a equipa sénior masculina, Academia Club de Lôvua, tem tido bons resultados. Recentemente ganhou um torneio contra as aldeias vizinhas e uma equipa do Município - organizado pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, e pelos parceiros Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) e Igreja Evangélica Irmãos de Angola (IEIA) - e que pretendia promover a convivência pacífica com comunidade de acolhimento.
“Há muitos talentos aqui e é preciso promovê-los”, diz o treinador enquanto releva ter o objectivo de participar no campeonato nacional de Angola, no quadro da convivência pacífica.
“Gostei muito deste torneio. Porque nós tínhamos muitas dificuldades com os nossos vizinhos e assim podemos colaborar um pouco mais”, diz Alex Ngalamulume, de 17 anos, um dos jogadores do Academia Club de Lôvua. “Não conhecíamos as pessoas do Município do Lôvua e agora fizemos amizade.”
Também Alex sonha em chegar mais longe e tornar-se jogador profissional. É para isso que vai treinar todos os dias às sete da manhã, mesmo que as condições nem sempre sejam as melhores: “O Cristiano Ronaldo também começou assim, a jogar na terra”.
Durante as comemorações passadas do Dia Mundial do Refugiado, o talento dos jogadores do Lôvua deu nas vistas também para o ACNUR Angola e parceiros. Nessa altura, o Chefe do Escritório do ACNUR no Dundo, Chrispus Tebid, em consulta com o Representante em Angola, Vito Trani, colocou na agenda a promoção destes talentos nas competições locais. O próximo passo é a integração no campeonato provincial de futebol de 11 da Lunda Norte, numa equipa conjunta com jogadores das aldeias vizinhas.
A convivência pacífica entre as comunidades deslocadas e anfitriãs é uma das prioridades estratégicas globais do ACNUR. Nesse contexto, em todo o mundo, o ACNUR incentiva práticas desportivas para promover a protecção e a interacção entre refugiados, requerentes de asilo e as comunidades anfitriãs, especialmente meninas e mulheres jovens.