Campanha Angolanas/os na ONU: Miguel Mbiavanga Ajú
“Trabalhar em prol dos outros de forma altruística vale a pena”
Nasci no Uíge, onde estudei num seminário, mas não segui o caminho para me tornar sacerdote. Abandonei o seminário para abraçar o Mundo ao serviço da ONU, partindo de uma experiência na UNAVEMM III em Angola. Em 2001, saí do país para apoiar quem mais precisa, quase sempre em cenários de conflito ou pós-conflito, nas mais diversas regiões do globo. Esta decisão foi uma questão de fé e também fruto da minha vontade de contribuir para um mundo mais justo. Agora, aos 48 anos, embarco em um novo desafio nas Nações Unidas, em Nova Iorque, coordenando o nascimento de novas missões onde elas forem necessárias.
Na ONU, trabalho para os Departamentos de Operações de Manutenção da Paz e de Apoio Operacional. Coordeno e gerencio uma série de questões, desde apoio estratégico-operacional até assessorar altos dirigentes da ONU, preparação de planos estratégicos e participação em revisões estratégicas.
Meu percurso até aqui foi marcado por diversas experiências. Após deixar o Seminário Maior do Uíge, trabalhei com a UNAVEMM III e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados em Angola. Depois, trabalhei com a MONUA e Médicos Sem Fronteiras em Luanda. Saí de Angola em 2001 para trabalhar no Tribunal Penal Internacional das Nações Unidas para a ex-Jugoslávia, em Haia, na Holanda. Regressei a Angola por um curto período, trabalhando para empresas como Total, BP e KPMG, antes de voltar para as Nações Unidas, em 2008.
Desde então, estive envolvido principalmente em operações de paz da ONU, em países como Timor-Leste, Quénia, Somália e Haiti. Possuo vasta experiência internacional em contextos complexos de conflito e pós-conflito em África, no Sudeste Asiático, nas Américas e em outros lugares.
Os principais desafios no meu percurso foram diversos. Nunca tive a oportunidade de viver com a família por muito tempo, além de enfrentar inseguranças e riscos de vida em países como Sudão, Somália e Haiti. A nível profissional, destaco a necessidade de ser um trabalhador-estudante no exterior para ganhar a vida e formar-me, sem qualquer apoio.
Adoro o meu trabalho nas Nações Unidas. Como não me ordenei sacerdote, encontro muita satisfação e realização em fazer trabalho de missionário em países e locais onde as pessoas carecem de tudo. A formação humanística que tive no Seminário Maior do Uíge moldou-me e sustenta-me no trabalho humanitário do dia-a-dia.
Como académico, contribuo como investigador do Centro de Estudos Internacionais do IUL-ISCTE, Portugal. Escrevo sobre dinâmicas de segurança no Corno de África, operações regionais de manutenção da paz e política internacional.
Agora, em Nova Iorque, tenho novos desafios. Trabalho como Oficial de Planificação de Programas, elaborando um Guia Estratégico para start-ups de novas entidades da ONU, um trabalho inédito no Secretariado da ONU.
Sobre a diplomacia angolana, acredito que tem evoluído bastante nos últimos tempos. Angola é reconhecida como um ator credível em matéria de paz, segurança e conflitos a nível do continente africano. A diplomacia económica do país também merece destaque por atrair investimento estrangeiro direto.
Quanto ao futuro, estou focado na minha atual missão. Trabalhar nas Nações Unidas é prestigiante, mas exige muita determinação e sentido de responsabilidade. Para os jovens que queiram seguir uma carreira semelhante, digo que trabalhar em prol dos outros de forma altruística é uma tarefa nobre que vale a pena!