Refugiados e comunidade local promovem actividades contra a violência de género
A campanha “16 dias de activismo” alerta contra a discriminação, assédio, violência doméstica e sexual
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e parceiros juntam-se aos “16 dias de activismo” todos os anos. Esta é uma campanha global, que começa no dia da Eliminação da Violência Contra as Mulheres, a 25 de Novembro, passa pelo Dia Mundial da Luta Contra a Sida, a 1 de Dezembro, e termina no Dia Internacional dos Direitos Humanos, a 10 de Dezembro.
Em Luanda as actividades dos “16 dias de activismo” este ano foram concentradas nos centros comunitários de Viana e do Bairro Popular. Para além de testagem ao VIH e de uma sessão de consciencialização sobre a violência de género, fizeram parte do programa a distribuição de roupas e de produtos de higiene feminina e sessões de capacitação para jovens.
“Todo o homem e mulher deve pôr a mão na consciência e evitar estes actos,” diz Adriano, refugiado da RDC em Luanda desde 2017. Adriano, de 25 anos, tem uma mulher e um filho e apela por uma mudança de atitude. Ele também participou numa palestra no centro dos refugiados em Viana, seguida de uma campanha de limpeza.
Canama Jorgette também esteve nesta palestra, até porque esta refugiada da RDC, há mais de 20 anos em Angola, participa regularmente nas actividades da comunidade refugiada nos arredores de Luanda. Canama recomenda a todas as mulheres e homens vítimas de violência de género que façam queixas destes casos nas instituições. “Não sofram calados”, diz.
“A violência contra as mulheres é uma das violações mais comuns dos Direitos Humanos. Priva mulheres e meninas, inclusivamente entre a população refugiada, do direito à igualdade e diminui a dignidade humana, limitando as oportunidades relacionadas com as liberdades fundamentais”, explica o Representante do ACNUR em Angola, Vito Trani. “Nesta ocasião, apelamos a todos para que não fiquem indiferentes à violência, não estigmatizem os sobreviventes da violência e promovam a igualdade de direitos e oportunidades para mulheres e homens.”
“Estamos aqui para dizer que temos de parar a violência contra as mulheres”, diz Audrey, uma refugiada da República Democrática do Congo (RDC), de 18 anos. “Bater numa mulher é mau, é ofendê-la. Faz mal ao coração,” diz enquanto promete abordar o assunto com as amigas e colegas de escola.
Audrey vive no Assentamento de Refugiados do Lôvua, na Província da Lunda Norte, mas hoje veio até aldeia vizinha de Naginga. Dentro de momentos, ela, a mãe dela e as amigas vão dançar e fazer teatro na abertura dos “16 dias de Activismo”, uma campanha de duas semanas contra a violência de género.
Desta vez, as actividades promovidas pelo ACNUR na Província Lunda Norte, em Angola, não passaram apenas pela comunidade refugiada do Assentamento do Lôvua, mas também foram estendidas à comunidade local e das zonas urbanas. “Os refugiados vivem na comunidade, por isso entendemos que devemos ter esta actividade em conjunto para passar melhor a mensagem”, explica o associado de protecção do ACNUR Ronaldo Segunda. A primeira paragem escolhida foi aldeia de Naginga porque, explica Ronaldo Segunda, “esta é uma comunidade que apoia muito os refugiados, é um exemplo de apoio”.
Neste primeiro dia da campanha, o ACNUR e parceiros chamaram os habitantes da aldeia de Naginga para falar sobre questões como violência doméstica e sexual, casamento e gravidez precoces, planeamento familiar e emancipação da mulher através de actividades económicas. Mas os próprios refugiados, que vieram do Assentamento do Lôvua, ali mesmo ao lado, também tiveram uma palavra a dizer. Logo a abrir, Marguerite Munkamba, uma refugiada de 27 anos, leu uma carta sobre os direitos das mulheres.
“As pessoas dizem que o lugar das mulheres é na cozinha, que não temos o direito de nos sentarmos numa cadeira”, diz Marguerite. “É por isso que estamos aqui, para sermos aceites.” Marguerite diz conhecer casos de mulheres que foram agredidas, mas acredita que os mais jovens têm um comportamento diferente: “Para a minha geração é mais fácil, podemos fazer o que queremos”.
Mais à frente, é a mãe de Audrey, Rose Kasena, que fica no centro de todas as atenções: participa numa pequena encenação teatral onde o tema do abuso e assédio sexual no contexto do trabalho são temas centrais. Rose está convencida que é muito importante educar os homens contra a violência de género. E dá outro exemplo: “É preciso aconselhar os homens a prevenir a gravidez precoce nas meninas. Os homens devem estudar e ser pessoas responsáveis para cuidarem das mulheres”. Rose defende que as meninas não se devem casar antes dos 18 anos.
“Este ano a campanha envolveu não só o ACNUR, mas também refugiados, parceiros e entidades governamentais. Actuamos em conjunto e em diferentes localidades e isso ajuda a enviar uma mensagem muito importante contra a violência de género aos refugiados e às comunidades ao nosso redor”, diz Chefe de Escritório do ACNUR no Dundo, Chrispus Tebid.
Na Lunda Norte, as actividades organizadas pelo ACNUR e parceiros incluiram palestras sobre o cancro da mama e do útero para mães e adolescentes e testagem voluntária para o VIH. A campanha terminou com uma marcha no Assentamento do Lôvua a marcar o Dia Internacional dos Direitos Humanos.