Activista ruandesa ajuda e inspira mulheres refugiadas e angolanas de sua comunidade
Para comemorar o mês da mulher, o ACNUR conversa com Claudine, refugiada e activista com acções que têm impactos positivos na vida de outras mulheres.
Celebrado globalmente no dia 8 de março, o dia Internacional das Mulheres tem como objectivo chamar a atenção para as questões sociais, políticas, econômicas e culturais enfrentadas por mulheres e defender progressos nessas áreas. No caso de mulheres refugiadas, os desafios costumam ser maiores, e os avanços ainda mais significativos. Para comemorar essa importante data, o ACNUR, a Agência das Nações Unidas para Refugiados, conversou com Claudine, uma refugiada ruandesa cujas acções fazem muita diferença na vida de outras mulheres, refugiadas e angolanas, que vivem em sua comunidade.
Claudine, 49 anos, foi forçada a deixar Ruanda devido a conflitos e perseguições e chegou em Luanda em 1997, sozinha e sem notícia do paradeiro do resto da família quando tinha apenas 19 anos. Naquele momento, Angola atravessava a guerra civil, o que tornou sua chegada ainda mais difícil. Com o tempo, ela conseguiu estabelecer-se, casou-se, teve filhos e junto com seu marido tornou-se muito actuante e uma grande referência junto à comunidade de refugiados em Luanda.
Com formação em nutrição, costura e pastelaria, Claudine dedica-se às duas actividades para complementar a renda em casa. Entretanto, desde fevereiro de 2020, ela decidiu voluntariar-se como activista com o objectivo de fortalecer a prevenção de HIV/SIDA e violência de gênero na comunidade em que vive, atendendo tanto refugiados quanto membros da comunidade local.
Com o início da pandemia de COVID-19, Claudine incorporou orientações de prevenção a COVID-19 às suas atividades, seguindo rigorosamente todos os protocolos de segurança. No início, ela revela que foi assustador. “Tivemos muito medo. Assistíamos na televisão o impacto do vírus em países mais desenvolvidos e ficamos apavorados com o que poderia acontecer em nossa comunidade”, conta. Mesmo tendo que adaptar sua rotina à nova realidade, ela seguiu com os atendimentos individuais, incluindo acompanhamentos de casos mais avançados de SIDA e apoio para situações de violência de gênero.
Claudine conta que mulheres refugiadas estão mais expostas a riscos diversos e explica que os casos de assédio e violência são diários, tanto em suas casas quanto nos locais de trabalho. Grande parte das mulheres refugiadas em Angola trabalha vendendo mercadorias nas ruas, e isso acaba por deixá-las ainda mais vulneráveis. “Essas mulheres sofrem em silêncio, muitas têm medo de fazer denúncias”, ressalta a activista, reforçando a importância da rede de apoio.
Além de Claudine, outras 12 mulheres e 8 homens, somam-se as actividades de conscientização e acompanhamento deste projecto que é conduzido pela organização Serviços Jesuítas aos Refugiados (JRS), com o apoio do ACNUR. Para prepararem-se, os activistas receberam treinamentos da JRS e do Instituto Nacional de Luta Contra a Sida (INLS). Desde o início de 2020, mais de 500 pessoas já foram sensibilizadas e beneficiadas pelo projecto.
No último ano, Claudine conta que já pôde perceber o impacto positivo de suas actividades, como a redução do número de infecções por HIV e o controle de contágio da COVID-19 em sua comunidade. Além disso, ela diz acreditar que seu trabalho voluntário inspira outras mulheres e que ela acredita que o projecto vai crescer e beneficiar cada vez mais pessoas.
O ACNUR entende que o apoio entre as mulheres refugiadas em uma mesma comunidade é fundamental para a prevenção de novos casos de violência de gênero. Para a Associada de Protecção do escritório do ACNUR em Angola, Wine Camilo, “embora ainda haja o presupposto de que certas actividades devem ser lideradas por homens, a experiência no terreno e testemunhos como o de Claudine, têm nos mostrado que cada vez mais mulheres têm desafiado estereótipos, entretanto, para além de mulheres, é necessário redobrar esforços com os homens na promoção da igualdade de gênero ”.
Por fim, quando perguntada sobre qual mensagem gostaria de passar para todas as outras refugiadas do mundo neste Dia Internacional da Mulher, ela reforçou a importância da união. “Temos que nos unir e trabalhar pelo bem da nossa sociedade e do país que nos recebeu, assim seremos cada vez mais fortes”. Sim, Claudine, que você siga inspirando cada vez mais mulheres com a sua força!